Robôs: como mudarão o mundo?
A era dos robôs foi prevista por décadas. Inicialmente usado para se referir ao trabalho automatizado nos anos 20, e popularizado no clássico filme de 1927 “Metrópolis”, eles têm sido uma caraterística comum dos filmes de ficção científica desde então.
O fato de que robôs e ficção científica andem de mãos dadas – e que previsões de que em breve teríamos ajudantes robôs como características comuns de visões futuristas desde a década de 1930 – significa que a ideia de robôs se tornarem parte central de nossas vidas se tornou tão familiar que chegamos a ignorá-los.
No entanto, os robôs têm sido realidade na manufatura por décadas, se tornando soluções com boa relação custo-benefício nos anos 70. O “Roomba” – um aspirador de pó automatizado que talvez seja o robô ajudante doméstico mais famoso – foi lançado em 2002 e vendeu mais de 10 milhões de unidades em todo o mundo. Com a expansão da Internet, máquinas programáveis estão cada vez mais em ascensão.
Muitos estão apostando que, ao longo da próxima década, a ascensão do robô levará a tanta disrupção quanto a ascensão da web. Um livro recente alertou que estamos em um ponto de inflexão onde a robótica poderia levar ao desemprego em massa e ao colapso econômico, enquanto tecnólogos e cientistas, incluindo Elon Musk, Bill Gates e Stephen Hawking, alertaram sobre os perigos da inteligência artificial. Então, onde os robôs estão fazendo mais progressos – e deveríamos estar preocupados?
APROFUNDANDO
Outro termo para robô é autômato, e esta é talvez uma maneira mais apropriada de se pensar sobre a tecnologia. Enquanto a ficção científica nos condicionou a pensar em robôs enquanto figuras humanóides como o C-3PO de Star Wars, a maioria é mais parecido com R2-D2 – com maior foco na função do que na forma. Robôs são projetados para realizar tarefas de maneira independente – eles conseguem ser qualquer coisa desde máquinas simples a sistemas complexos.
Robôs – A ascensão da autonomia
Um drone militar não tripulado ou Veículos Aéreos Não Tripulados (UAVs em inglês) foi manchete constante durante a década passada, tendo sido (oficialmente) visto pela primeira vez em ação durante a Guerra do Vietnã nos anos ’60. Cada vez mais sofisticado, com sensores que permitem independência dos operadores no solo, muitos destes robôs voadores são capazes de agir por conta própria, controlar automaticamente sistemas evitando colisões assim como detectar e reagir a ameaças. Humanos permanecem no controle apenas dos sistemas de ataque.
No solo, robôs para eliminação de bombas têm sido usados pelos militares e pela polícia por décadas, enquanto novos sistemas como o LS3, similar a um cachorro, da Boston Dynamics estão em desenvolvimento para servir como unidades autônomas de suporte todo-terreno, navegando através de uma combinação de sensores óticos sofisticados e GPS.
Assim como com a tecnologia militar, o espaço civil está começando a adaptar a robótica militar para uso mais pacífico. Os sistemas UAV (Veículos Aéreos Não Tripulados) estão tornando os pilotos automáticos das linhas aéreas mais sofisticados, enquanto que a tecnologia dos drones está sendo testada pelo Facebook para lançar UAVs movidos a energia solar a fim de prover acesso à Internet em áreas remotas. Enquanto isso, o Google tem investido fortemente em empresas de robótica, muitas das quais começaram com usos militares, para desenvolver drones autônomos para entregas, carros autônomos e robôs para busca e salvamento em resposta a desastres.
Este futuro próximo de veículos autônomos que podem atravessar quase qualquer terreno pode revolucionar o último trecho das cadeias globais de suprimento. Ao mesmo tempo, quase todos os principais fabricantes de automóveis estão investindo fortemente em tecnologias que dispensam motoristas, com dados iniciais indicando que automóveis autônomos são mais seguros que aqueles controlados por humanos. Alguns países já estão introduzindo legislação que permite os veículos sem motoristas a operar em vias públicas, potencialmente tornando obsoletos o táxi, o caminhão de entrega e até mesmo o carro particular.
Robôs – A ascensão da aprendizagem adaptável
A ascensão do assistente pessoal digital – como a Siri da Apple, do Google Now, do Cortana da Microsoft – é apenas um aspecto pequeno e inicial de uma tecnologia emergente semelhante. Algoritmos estão se tornando sofisticados o bastante para aprender a partir de dados e adaptar suas respostas de acordo com estes – no caso do assistente digital, personalizando suas respostas às necessidades do usuário – em um campo conhecido como aprendizagem computacional ou, em inglês, machine learning.
Entretanto, o assistente digital no seu bolso é apenas uma parte pequena desse campo que se desenvolve rapidamente. Aprendizagem de robôs, em que as máquinas aprendem a adaptar-se em ambientes mutáveis – até mesmo ao ponto em que eles conseguem construir versões novas e melhoradas de si próprios para enfrentar os desafios do futuro – está crescendo rapidamente. Carregue um robô com sensores o bastante, e com os algoritmos corretos e poder de processamento, um sistema pode ser desenvolvido que pode ser auto aperfeiçoado. O mesmo princípio pode ser adotado para robôs da manufatura para construírem versões dos produtos finais que eles foram projetados para criar.
Embora apenas nos estágios iniciais, uma vez que o conceito foi provado, espere que o ritmo do progresso aumente rapidamente. Este desenvolvimento poderá revolucionar quase toda a indústria da manufatura – e combinado com a ascensão da impressão 3D e melhor processamento de Big Data, modelos novos e melhorados, poderão ser projetados, prototipados, testados e lançados no mercado muito mais rápido do que nos ciclos de pesquisa e desenvolvimento anteriores.
Robôs – Substituindo humanos ou os ajudando?
A habilidade das máquinas de realizar tarefas que antes eram feitas por pessoas tem sido uma preocupação desde o início da Revolução Industrial, o movimento Ludita conhecido por quebrar as máquinas em uma tentativa de salvar os postos de trabalho.
Com máquinas capazes de assumir qualquer tarefa repetitiva, e cada vez mais compatíveis com computadores para analisar dados até o ponto em que elas agora são capazes de passar em testes antes considerados sinais de autoconsciência, alguns enxergam o crescimento do robô como uma ameaça significativa ao emprego. Entretanto esta necessidade não leva ao colapso econômico, de acordo com alguns teóricos. Em vez disso, a produtividade dos robôs poderia manter a economia girando e até mesmo melhorar os resultados finais, liberando os humanos para focar em outras coisas – partindo do pressuposto que a riqueza gerada poderá ser distribuída de forma eficaz para nos permitir continuar comprando alimentos e pagar pela moradia.
Com as economias mais desenvolvidas sofrendo com o envelhecimento da população, a habilidade dos robôs de assumir alguns trabalhos poderia até ser uma bênção. No Japão – um dos países com alta probabilidade de ser impactado mais fortemente pelo envelhecimento da população – a ascensão do robô cuidador já está começando, patrocinado pelo Ministério da Saúde do país. Na Suécia, o sistema robótico “GiraffPlus” consiste em instalar sensores por toda a casa para monitorar tudo desde quedas a pressão sanguínea.
Quando combinado com tecnologia de farmácias robotizadas – como a recém implantada na área rural da Escócia – drones autônomos entregam medicamentos e até mesmo ambulâncias sem motoristas para transportar pessoas de e para o hospital, tais sistemas poderiam ser combinados para prover análise médica quase total e atendimento. Enquanto isso, robôs já estão sendo amplamente utilizados em cirurgias e – apesar de um estudo recente os ter ligado a 144 mortes em 1,7 milhões de procedimentos – cada vez mais eficazes, possibilitando incisões menores que levam a uma recuperação mais rápida, assim como cirurgia remota, aumentando o número de pacientes que podem receber cuidados.
Ligando os pontos
Esta habilidade dos robôs de trabalharem juntos através de sistemas conectados está marcada para ser o ponto de reviravolta na revolução robótica. A Internet das Coisas – termo popular para a comunicação entre máquinas baseada na Internet – está prevista para conter 50 bilhões de dispositivos até 2020, de acordo com o Relatório de Impacto Cibernético Global feito em 2015 pela AON.
Some a habilidade destas máquinas – de robôs de manufatura em fábricas a utensílios de cozinha nos domicílios, aparelhos de monitoramento de condições físicas a carros sem motoristas – de se comunicar uma com as outras à habilidade emergente de aprender a se adaptar e melhorar, e nós poderíamos estar à beira de uma nova revolução tecnológica.
PONTOS DE DISCUSSÃO
“Que tipos de trabalho são fundamentalmente repetitivos em algum nível? Muitos níveis diferentes de habilidades se enquadram nesta categoria. Tampouco se trata apenas de empregos menos qualificados. Pessoas com formação universitária, até mesmo formações profissionalizantes, pessoas como advogados estão realizando tarefas que são previsíveis no fim das contas. Muitos desses trabalhos estarão sujeitos [a ser substituídos por robôs] com o tempo.” – Martin Ford, autor do livro “Rise of the Robots: Technology and the Threat of a Jobless Future”.
“A inovação atual irá mudar o modelo de onde, como e por que os robôs são implementados em maneiras exponenciais… Como o computador, feito para ajudar os engenheiros a fazer seu trabalho melhor, o robô se tornará parte do time de empregados: para ajudá-los a fazer melhor o seu trabalho.” – Roland Menassa, Centro Avançado de Tecnologia de Fabricação e Sofware Avançada da GE.
“As máquinas são ferramentas, e se a propriedade delas é mais compartilhada, a maioria das pessoas poderia usá-las para aumentar suas respectivas produtividades e elevar tanto seus ganhos quanto seu lazer. Se isto acontecer, uma sociedade cada vez mais rica poderá restaurar o sonho da classe média que por muito tempo tem impulsionado a ambição tecnológica e crescimento econômico.” – MIT Technology Review.
THE ONE BRIEF. How will robots change the world? Disponível em: <Acesso em: 15 de setembro de 2018